por Catarina Rodrigues
Com efeito, quando se assiste a um encontro feliz entre paciente e terapeuta, a relação terapêutica tem um carácter único de intimidade e de confiança, sobretudo de interesse e de afectos genuínos… que solidificam a relação, uma vez que não são sentimentos unilaterais, mas partilhados por ambos os parceiros da viagem terapêutica.
E em que outro estilo de relação seria possível falar-se de assuntos tão íntimos? É necessário sentir o afecto e a inabalável esperança do terapeuta na capacidade de crescimento mental/afectivo/social do paciente.
Assim sendo, deixa de fazer sentido falar de dependência, mas antes de trampolim confiante e confiável, resiliente e promotor de resiliência para a vida. O projecto de vida vai-se desnudando ao longo do processo terapêutico, à medida que a honestidade passa a ser a essência desta nova relação.
Por tudo isto, não posso negar que aquilo que o terapeuta diz – essencialmente devido ao seu carácter afectivo – é da maior importância para o paciente. É verdade que, em alguns processos terapêuticos, e em algumas fases da terapia, a pessoa pode sentir que não quer tomar decisões sem falar com o seu terapeuta. Contudo, isso parece-me ter menos a ver com a dependência do que com o sentimento de confiança no terapeuta que se interessa, que compreende e que ajuda a pensar.
À medida que o processo terapêutico progride, a pessoa começa a adoptar um estilo de pensamento e de actuação mais de acordo/honesto consigo própria – um estilo que se vai desvelando na terapia. Neste sentido, poderíamos falar, creio eu, num segundo nascimento!
(Adaptado do artigo de Catarina Rodrigues: «O sentimento de dependência e a psicoterapia», publicado na Revista da Junta de Freguesia da Charneca de Caparica, nº 9, Dez. de 2004)