Ajudar no Isolamento
Infantil
Publicado originalmente no Jornal Público
Catarina Rodrigues
Em primeiro lugar, analise se os
comportamentos de isolamento do seu filho são recentes e circunstanciais
(relacionando-se com um acontecimento identificável) ou se se confundem com a
personalidade e história de vida do seu filho (ele sempre mostrou uma tendência
para se isolar e se fechar e dificuldade em gerir as frustrações).
Em segundo lugar, faça uma
análise sincera e veja como as dificuldades do seu filho se inserem na dinâmica
da família. Estará a acontecer alguma coisa na família que possa ser confuso,
angustiante ou difícil de gerir para o seu filho? Divórcio dos pais,
desemprego, morte, doença grave, conflito entre os pais, conflito pais-filho,
conflitos na escola, entre outros. E tal situação é recente ou já sucede há
muito tempo? E como é que a gerem com o vosso filho? E entre vocês?
Em terceiro lugar, analise a sua
personalidade e as suas próprias dificuldades sociais. É provável que encontre
um fio condutor com a personalidade do seu filho.
Se não se sentir capaz de abordar
ou de encontrar soluções que auxiliem o seu filho, porque são questões com que
também se debateu e que ainda o marcam, ou porque os comportamentos de
isolamento e retraimento do seu filho o irritam ou dececionam, lembre-se que
pode sempre procurar ajuda no exterior, seja num psicólogo seja num amigo
próximo que possa ter uma visão e uma experiência de vida diferentes das suas. O
interesse de alguém de fora, com uma ligação emocional significativa e a quem a
criança reconhece competências que não reconhece nos pais, pode fazer a
diferença. Muitas vezes, há professores ou amigos que, detetando que algo não
está bem, procuram ajudar. Espontaneamente, vão atrás da criança, não a deixam
isolar-se e convidam-na para situações de integração social. Com carinho e
mantendo-se na retaguarda enquanto a criança desta precisa.
E esta é, quanto a mim, a melhor estratégia: não compactuar com a
tendência ao isolamento, nem arranjar quaisquer justificações para ela
(seja na personalidade, seja nas vivências da criança). Isolar-se de forma
constante e persistente, evitando o contato social, não é um comportamento
normal. Ponto final. E a melhor ajuda que podemos dar é fazer a criança a
sentir-se integrada/amada, competente/interessante. Estas crianças querem ser
resgatadas do seu isolamento. Não o procuram por prazer, mas devido ao seu
sofrimento. O isolamento traduz o facto de terem chegado a um beco sem saída.
Fale com carinho e sem culpa com
o seu filho sobre esta sua tendência e procure ver como é que ele a entende
dentro de si mesmo. E depois, faça-lhe ver que o isolamento nada resolve, até
agrava o sentimento interior de mal-estar, como ele próprio o sabe. E
incentive-o a procurar amigos com que goste de conversar e de brincar e a
integrar-se nas brincadeiras, mesmo que sinta que as coisas não correm bem de
início. Todos temos o nosso ritmo e o
mais natural é que, se não desistirmos, a sintonia emerja.
E em quaisquer situações em que esteja com o seu
filho, não feche os olhos quando repara que ele se está a isolar. Ajude-o a
integrar-se, mas sem grande alarido. Aproveite a oportunidade para conversar
com ele, por exemplo sobre algo que ele gosta de falar ou sobre alguma situação
divertida porque passaram ou que estão a ver. Falar sobre as dificuldades dele
pode ser contraproducente. É mais importante focar algo de que ele goste e que
sirva de desbloqueador do retraimento. Em situação social, incentive a conversa
ou brincadeira com as pessoas de quem ele gosta. E gradualmente vá deixando de
participar na conversa ou na brincadeira, à medida que o vê mais à-vontade.
Demonstre o seu orgulho nos seus progressos. A confirmação e o estímulo ao desenvolvimento de novas competências, associada
ao reconhecimento, ao entusiasmo e à crença inequívoca da capacidade do seu
filho em transformar a situação, são o primeiro passo para a refundação de um
novo estilo relacional assente na confiança.
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