Jornal Público (21 de
Julho de 2013)
Catarina Rodrigues
Psicóloga Clínica e Psicoterapeuta
Quando é que começamos a ter
direitos? Podemos falar de direitos dos bebés? E porque seriam importantes?
Apesar da evolução positiva que se
tem vindo a operar em relação ao conceito de bebé, realço a importância desta fase
fundadora do desenvolvimento humano… e de como depende de uma série de
condições basilares, a que denominarei direitos dos bebés.
De modo a poder explorar melhor este tema, irei refletir
convosco ao longo de alguns artigos. Este versa sobre o:
Direito a ter pais
emocionalmente disponíveis
Quando nasce, o bebé é um ser humano. Mas só se torna pessoa através da relação com os
seus cuidadores, como o demonstram os estudos sobre a interação mais precoce. Depende
do estabelecimento de um vínculo amoroso por parte dos cuidadores e da
capacidade destes para responder de forma sensível, contingente, adequada e
criativa às necessidades/comportamentos do bebé. E do reconhecimento de como
esta relação é fundadora do seu “eu”.
A função parental é, pois, exigente,
porque começa numa fase que não está assente na linguagem verbal, exigindo capacidade
de se colocar no lugar do bebé e de escutar e agir com o coração. Isto é, que
se esteja emocionalmente disponível para entender a comunicação emocional do
bebé e corresponder-lhe empaticamente.
Em meu entender, tal é facilitado
quando os pais conseguem recuperar e ouvir o bebé que vive dentro de si. Ou
seja, quando os pais se permitem “ser bebés”, sem perder o seu estatuto de
adulto.
Alguns pais têm esta capacidade
de forma natural e intuitiva. Outros têm mais dificuldade. Provavelmente eles
próprios não puderam ser bebés de forma livre e espontânea. São pais que
confundem educar com autoritarismo e domínio e que olham para o bebé centrados
na sua perspetiva de adulto, exigindo-lhe uma maturidade que este não possui… Ora,
o bebé respeita as normas dos adultos, quando primeiro sente que os adultos o
respeitam, mais do que o “educam”/limitam face à sua vontade de agir sobre o
mundo.
Quando nos permitimos olhar para o
bebé deixando ressoar o bebé que está dentro de nós, percebemos que o brincar e
a demonstração de amor, orgulho e de incentivo são a sua linguagem e que é
através desta que ele cresce e se desenvolve. Afinal, todos são manifestação da
nossa confiança genuína na capacidade daquele em conquistar com competência o
mundo que será o seu.
Assim sendo, defendo que deve ser
o adulto a adequar-se à imaturidade da comunicação do seu bebé, reconhecendo na
brincadeira o modo como ele experimenta, entende e aprende sobre o mundo que o
rodeia. Por isso, “fale” com ele através da brincadeira e da exploração,
criando alternativas para aquilo que ele não pode fazer. Exige mais tempo e
mais criatividade que irritar-se ou limitar a sua ação com um “não” retumbante.
Mas o seu bebé aprende consigo alternativas ao que não pode fazer, encarando a
vida como algo que pode sempre conquistar. Se não de uma forma, então de outra.
Tomemos o exemplo da birra. Antes
de se irritar, exigir ao seu bebé que se comporte “bem” e procurar dominá-lo
com gritos, bater-lhe ou deixá-lo sozinho, respire fundo, dê tempo para essa
manifestação, procure perceber o que está a ser transmitido e aceite-o como
válido e adequado. Os bebés comunicam de forma muito genuína o que necessitam.
Sente-se ao pé dele, ouça-o, procure entender e leve a sério a sua vontade. Não
se fixe na emoção negativa. Abrace-o e acarinhe-o. Vai ser bom para os dois e
diminui a tensão. Todos nós nos acalmamos quando alguém se disponibiliza para
nos ouvir e perceber a nossa razão. Com os bebés é igual.
Mas
para o ajudar a compreender os motivos da recusa e a descobrir alternativas,
tem de usar a linguagem da brincadeira. Explique a razão do seu não e cative a sua
atenção para outra coisa. Ele está ávido de aprender mais sobre o mundo que o
rodeia. Rapidamente percebe que há mais para explorar e não se importará de
deixar o que estava a fazer. Sobretudo, se você for o seu alegre companheiro de
exploração!
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