Catarina
Rodrigues
Psicóloga
Clínica e Psicoterapeuta
Assistimos
a mudanças qualitativas na relação entre pais e filhos, crescendo o número de
pais que reconhecem a importância de acompanharem o desenvolvimento do seu
bebé. Alguns, privilegiados, fazem alterações na sua vida profissional de modo
a que aqueles possam ficar os 2 ou os 3 primeiros anos de vida em casa com um
dos pais, a tempo parcial (mais raramente a tempo inteiro), com o apoio ou dos
avós, ou de uma ama, ou mesmo de uma creche, onde deixam o filho nos dias em
que têm de ir trabalhar. O que não abdicam é de um período exclusivo com os
seus filhos, em que se dedicam inteiramente a eles e se focam no prazer de
estar com eles.
São
pais emocionalmente disponíveis para os seus filhos, graças, também, ao
crescimento financeiro que se observou nas décadas anteriores e que deixou os
pais mais libertos das preocupações com as necessidades básicas de comer e da
saúde e, por isso, disponíveis para uma outra necessidade básica que é
liberdade/tempo para amar.
A
crise atual já está a inverter este ciclo… mantendo-nos contínua e cronicamente
afastados das políticas de assistência à família que vemos em países mais
desenvolvidos. Países onde os governos sabem que mais amor na infância gera
adultos mais seguros, menos doentes psicologicamente e mais capazes de
construir uma sociedade melhor.
As
mudanças a que assistimos impõem, pois, que pensemos qual o papel dos pais
contemporâneos.
Afinal, qual é o nosso papel?
O
bebé tem um potencial de desenvolvimento emocional saudável enorme. Ao nascer, espera
sobretudo um meio acolhedor da sua espontaneidade e está disponível para
aprender tudo o que é humano pelo
humano, nomeadamente através das figuras parentais.
O
impulso para o desenvolvimento efetiva-se na interação com o humano. Só me
interesso pelos outros porque antes alguém se interessou por mim e me mostrou
que os outros são, por isso, dignos do meu interesse. Sem este interesse
primordial, o bebé fica cativo de uma necessidade insatisfeita e, embora vá
crescendo fisicamente, emocionalmente permanece com esta necessidade em
suspenso.
Note-se,
pois, que os bebés não são tábuas rasas nem aceitam todo o tipo de cuidado que
lhes é prestado, embora, dada a sua imaturidade e dependência, não tenham outra
solução senão moldar-se.
Ora,
em meu entender, é necessário reconhecer o bebé como uma pessoa em desenvolvimento. Fazendo-o, o nosso olhar sobre ele
altera-se. De repente, não somos nós, adultos, que estamos no centro da questão,
mas o bebé. O que é que isto quer dizer?
Quer dizer que, ao desejo epistemofílico inato
do bebé deve corresponder uma atitude facilitadora
dos pais. Quando falo em atitude facilitadora dos pais, estou a referir-me ao
impulso natural dos pais em apresentar o mundo (natural e humano) ao seu bebé,
por um lado, e em “seguir” a curiosidade do bebé no seu processo de
conhecimento, por outro.
Ou seja, após uma primeira fase em que é o
adulto que “inicia” a apresentação do mundo que será o do seu filho (no primeiro trimestre de vida), progressivamente vai
sendo o bebé a comandar. Se a sua curiosidade é respeitada e respondida, o bebé
sente-se competente na sua capacidade de exprimir o que quer e torna-se cada
vez mais explícito sobre as coisas que quer ver, mexer e experimentar.
Assim sendo, penso que a arte da função
parental é dar a resposta adequada ao
desejo de conhecer inato do bebé. Neste sentido, os pais são como um farol
(usando as palavras de António Coimbra de Matos): alguém que ilumina o caminho
para que o outro possa fazer a sua escolha.
Contudo, só iluminar não chega. Para que a
aprendizagem se instale numa auto-estima segura, é necessário que exista prazer
e alegria inegáveis, espontâneos e consistentes face às conquistas do filho. É
a luz do orgulho que ilumina a face parental que bafeja o amor próprio do
filho, deixando sementes bem seguras de sentimentos de competência e de ser
amado!
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