Dicas para umas férias mais felizes!
Revista Pais & Filhos (Agosto 2013)
Catarina Rodrigues
Psicóloga Clínica e
Psicoterapeuta
Chegou o mês de Agosto, o mês das
férias por excelência em Portugal. Um período muito sonhado e desejado ao longo
do ano por toda a família!
Porém, como em tudo o que é muito
sonhado e em que há pouco tempo para vivê-lo, as férias podem deixar um
sentimento de alguma frustração, nomeadamente nos pais. Porque não conseguiram
descansar tudo o que precisavam (quando começavam a sentir a cabeça livre, já
as férias estavam no fim), porque sentem que nem sempre é fácil equilibrar as
várias necessidades em jogo (como é possível descansarem e gozarem do dolce fare niente com filhos pequenos,
seres cheios de energia, de vontade de estar, brincar e mostrar tudo aos pais?),
mas também porque se vêem a braços com os seus filhos a tempo inteiro, com a
necessidade de os entreter… e sem terem o curso de educadores!
São alturas em que alguns pais
sentem que os seus filhos são demasiado exigentes e cansativos, que fazem mais
birras e não lhes obedecem. E dão por si a pensar no seu trabalho e na escola
dos filhos como momentos em que podem, efetivamente, fazer férias… dos filhos.
Não sei se são os filhos que são
mais exigentes nas férias, se são os pais que andam cansados, mais exigentes
com os filhos e com pouca paciência para a sua imaturidade e para o que isso
implica em termos de disponibilidade emocional… Penso, também, que o facto de
estarem 24h juntos tem repercussões quer nos filhos quer nos pais. Demora algum
tempo para que se sintonizem e adaptem os ritmos e as necessidades uns dos
outros. Mas com amor, respeito, tolerância e boa-disposição tudo se consegue!
É com base nesta ideia que vos
deixo algumas sugestões, que, espero, vos ajudem a refletir e a encontrar o vosso
equilíbrio, para que, no final das férias, sintam que estão mais próximos e
unidos à vossa família e que, apesar de todas as dificuldades, tempestades e
chatices, não há, no mundo, outras pessoas com quem mais gostassem de estar! De
tal maneira que, na memória de cada um, aquilo que perdure sejam os momentos em
que se divertiram e riram em conjunto, redescobrindo o lado cúmplice e
acolhedor da vossa família. E em que, como pais, se maravilharam com aqueles
pequeninos grandes seres que são os vossos filhos!
Dicas para lembrar em período de férias!
1. Período de férias exclusivo dos pais (quando
não têm bebés, claro!). Tirem alguns dias a dois antes das férias com os vossos
filhos ou peçam aos avós para ficarem com eles (mesmo que seja só um
fim-de-semana) para poderem descansar e limpar a cabeça do trabalho. Se isso
não for possível, pensem na possibilidade de fazerem férias com mais pessoas,
sejam avós, tios ou amigos com filhos, de modo a terem momentos a sós e os vossos
filhos terem mais pessoas com quem dividir a atenção.
2. Período de férias para a família nuclear.
Momento privilegiado entre pais e filhos, onde impera o vosso ritmo e a vossa
identidade como família. Não abdique de usufruir dos seus filhos sem a presença
da restante família! Dá mais trabalho, mas fortalece o sentimento de pertença.
3.
Agendar
algumas atividades divertidas a pensar nas crianças, mas que faça as
delícias de toda a família!
4.
Deixar vir
ao de cima o seu lado criança. Estar com uma criança só é cansativo quando
estamos indisponíveis, mal connosco próprios, enclausurados na fachada de
adultos sérios, organizados, cheios de regras e de responsabilidades… quando
não conseguimos resgatar de dentro de nós a nossa própria criança… para brincar
e rebolar na areia, juntamente com os nossos filhos.
5.
Perante a birra,
desarme os seus filhos com a sua boa-disposição e criatividade. Quando se é
criança (e mesmo em adulto!) nem sempre é fácil entender que se tem de ir
embora da praia e terminar com aquele momento tão bom. E a birra e o choro surgem
como formas de comunicar uma imensa vontade de se continuar ali. Experimentem
nessas alturas ir ao encontro do desejo dos vossos filhos: vão vocês mesmos a
correr até ao mar e levem-nos convosco. Eles vão rir a bandeiras despregadas e
o choro desaparece como por magia. Depois, entre beijinhos, meiguices e
palavras de compreensão pela tristeza e frustração deles, ajudem-nos a
perceber, com calma (não vale a pena stressarem, só agrava a situação), que têm
todos de se ir embora… mas que vão voltar ou que vão fazer outras coisas
divertidas. Eles próprios também vão querer ir, porque têm fome ou estão
cansados. E comecem uma canção que eles gostam e sabem ou inventem uma
brincadeira para sair da praia. O importante é alterar o estado de espírito
geral para o prazer e a satisfação. É essa a linguagem da criança! Os castigos,
o deixar as crianças a chorar, humilhar, criticar, ou mesmo o bater, apenas
deixam um mal estar geral que acentua o problema. Empatize com os desejos e
necessidades dos seus filhos e use a linguagem do amor e da compreensão. Educar
não é autoritarismo. Aprendemos pelo amor, não pela obrigação/medo.
6. Não estabelecer rotinas rígidas. É
verdade que se está com crianças e que existem alguns horários importantes,
mas… a todos sabe bem não ter de fazer tudo como nos restantes dias e prolongar
os momentos de prazer! Deixem-se guiar pelo prazer e pelas dicas que uns e
outros vão dando sobre o que querem fazer e que mudam os planos originais (se
os havia) e que tornam as férias um feito da família! E vão descobrir que não é
preciso tanta atividade planeada. O prazer de estarem bem uns com os outros é
suficiente!
7.
Dividir as
tarefas e o tempo em que se está com os filhos, de modo a que haja momentos
em que um dos pais está mais concentrado e disponível para os filhos, enquanto
o outro pode gozar das carícias do sol e do mar. Esta divisão ainda é mais
importante quando sentir que está sem paciência para a energia e as traquinices
dos seus filhos. É normal. Você também precisa de descansar. Quando sentir que
tudo no seu filho a/o cansa e que só lhe apetece é que ele ande direitinho para
que a sua cabeça sossegue, é uma boa altura para se afastar e delegar os miúdos
ao pai/mãe. Se estiver sozinha/o com eles, é um bom momento para os levar a
algum sítio onde estejam outros pais com crianças, e onde possam extravasar e
você descansar um pouco. Ou vão dar um passeio a pé num sítio onde eles possam
correr e explorar à vontade.
8.
Recorde que os
filhos também têm capacidade de compreender (quando a maturidade mental o
permite) as necessidades dos pais. Desde que lhes sejam explicadas com
carinho e sinceridade e que a família funcione como uma equipa. O autoritarismo
só espelha o nosso cansaço e mal-estar interior, a nossa frustração e irritação,
a nossa insegurança e medo. Funcionar como equipa implica que as várias
necessidades são respeitadas… com a noção de que as das crianças têm prioridade
(tanto mais verdade quanto maior a sua imaturidade). Irritar-se porque quer
descansar ou arrumar alguma coisa e o seu filho quer a sua atenção vai fazer
com que a situação se agrave, porque o clima emocional se adensa e você perde a
capacidade de pensar com calma e com empatia. Provavelmente, se lhe der a
atenção que ele quer e o for encaminhando carinhosamente para outra atividade/pessoa,
enquanto lhe explica que precisa mesmo de descansar, vai conseguir fazê-lo mais
depressa.
9.
Pense
também em si e no casal. Não abdique do livro das férias, nem que seja
naquele bocadinho em que os filhos se foram deitar e a loiça e as roupas
ficaram por arrumar, sem culpas. E encontre tempo para o casal e para namorar. Existem
sempre momentos, mesmo que mais curtinhos, em que é possível sentir a união, a
cumplicidade e o prazer de se estar a dois.
10.
Paciência
e tolerância. Mantenha em mente que não há necessidade de ser tão exigente
consigo próprio, com o seu/sua marido/mulher e com os seus filhos. Estão de
férias. E viva-as com a certeza que elas nunca serão perfeitas, pois há sempre
coisas que não correm como gostaria. Mas que podem ser umas boas férias. Não há
férias ideais, assim como não há famílias ideais.
Boas
férias!
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