Jornal Público (11 de
Agosto de 2013)
Catarina Rodrigues
Psicóloga Clínica e Psicoterapeuta
catarina.nasc.rodrigues@gmail.com
Quando o mundo mental dos pais assenta
numa base insegura, as dúvidas, as comparações, as críticas e os julgamentos podem
ser sentidos como “imperfeições”… e perturbar a disponibilidade emocional para ler
as necessidades dos filhos. Ou seja, tais “imperfeições” transformam-se em
pedras que emperram a fluidez da relação pais-filhos.
Isso sucede porque o amor próprio
não está alicerçado numa base de auto-confiança, mas de insegurança,
desvalorização e extrema exigência. Assim, em momentos de maior fragilidade ou
tensão, a falta de confiança domina o olhar sobre a maneira de educar e estar
com os filhos… e bloqueia a espontaneidade e criatividade, impedindo o
desenvolvimento de um ciclo virtuoso.
Por exemplo, perante pessoas
significativas, pode agir com os seus filhos de forma mais contida, ansiosa e
exigente. Serão momentos onde aumenta a probabilidade de você achar que os seus
filhos se “comportaram mal”. Por um lado, quer certamente que se orgulhem de si
e estará menos tolerante com alguns comportamentos dos seus filhos, que são
sentidos como naturais noutras situações. Por outro lado, está tão alerta ao
que essas pessoas dizem/fazem que deixa de estar em sintonia com a comunicação
verbal e não-verbal dos seus filhos. E pode até dar por si a procurar “modelos”
nos outros, em detrimento de valorizar o que pensa e sente que é correto.
O sentimento de insegurança está correlacionado
com a relação primária e a experiência emocional concreta de não se sentir que as
pessoas significativas reconheceram nem reconhecem competência e maturidade,
mostrando-se exigentes ou insatisfeitas ou desvalorizadoras ou distantes ou
fechadas em si mesmos e nos seus problemas.
Geralmente, ser pai favorece a
aproximação aos seus próprios pais, reativando desejos e necessidades
insatisfeitas. Quando permanece o desejo de ser valorizado pelos seus pais, a
função parental pode ser sentida como mais uma oportunidade para transformar a
imagem que sente que estes têm de si… e desenvolver com eles um tipo de relação
sanígeno.
Contudo, nem sempre tal
transformação é possível. Não é fácil mudar dinâmicas instaladas sem que exista
da parte dos vários membros uma capacidade de aceitação, reflexão e motivação
para a mudança.
Por isso, a transformação mais
certa é aquela que pode operar em si mesmo. Reflita sobre a sua exigência para
consigo e sobretudo para com os seus filhos. Talvez radique no facto de continuar
a exigir-se uma imagem de competência sem falhas. Aquela que sem dúvida lhe granjearia
o valor tão esperado. E se irrite tanto ou se sinta frustrado quando as
“imperfeições” aparecem em si e nos seus filhos. Talvez se sinta desiludido com
os seus filhos por não serem “perfeitos”, pois tal agudiza o seu sentimento de
estar aquém/ser falhado como pai.
Contudo, a questão que gostaria
de deixar para refletir é: para quem
quer ser perfeito? E para quem quer
que os seus filhos sejam perfeitos?
Saiba que os filhos aceitam pais
imperfeitos na sua maneira de os educar, desde que sintam, desde o primeiro
momento da relação, que são respeitados e amados de forma incondicional. Percebem
que os pais se esforçam por lhes corresponder de forma sensível, adequada e
contingente, mas que nem sempre o conseguem… E estão dispostos a procurar
fazer-se entender até que a comunicação esteja afinada entre uns e outros.
Acreditam na capacidade dos pais.
E, além disso, face aos pais
imperfeitos, as crianças estão mais à vontade para serem autênticas: com as
suas birras para mostrar a sua vontade própria; “más” maneiras a comer à mesa,
porque estão a explorar a comida e a treinar comer sozinhos; sujar-se, porque
brincar implica explorar; responder-lhe “não” porque sabem que são considerados
como pessoas.
Concluindo, os bebés têm direito
a ter pais que convivam com a sua imperfeição. E assim tenham disponibilidade
emocional para conviver com a imperfeição dos seus filhos.
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