(Jornal Público, 2 de Fevereiro de 2014)
Catarina Rodrigues
Psicoterapeuta
Os comportamentos de ansiedade de
separação de uma criança manifestam insegurança e desconhecimento de como lidar
com as dificuldades com que se depara. Geram sentimentos de culpa, vergonha e
incompetência. Por isso, trate o seu filho com carinho e respeite a sua
dificuldade. Acredite genuinamente na
capacidade dele em encontrar estratégias, demonstre-o e confie.
Se você mesmo teve essas
dificuldades, pense no que é que o poderia ter ajudado. Procure não se assustar
ou irritar. O seu filho precisa da sua capacidade de pensar para além do medo e
da frustração. Faça uso da sua criatividade para desdramatizar a situação.
Por exemplo, se estamos diante de
um filho pequeno que não quer ir para a escola, antes de mais ouça-o e empatize
com as suas razões. Não desvalorize nem minta sobre a situação. Fale com ele
com ânimo em relação aos benefícios da escola e interaja com os meninos e as
educadoras da sala. Está a dar exemplos de como ele se pode relacionar com eles.
Pode incentivá-lo a descobrir o universo da sala ou levar um jogo de casa que sirva
de ponte para a relação com os outros meninos. O objetivo é estimular o
sentimento de confiança dele. Reforce o quanto gosta dele e acredita que vai
conseguir superar aqueles medos. Só tem de ter calma e ir ao seu ritmo. O
nervosismo acaba por passar e há coisas fascinantes para aprender e fazer na
escola… e com amigos é ainda melhor!
Quando o for buscar, tenha
curiosidade de ver o que se esteve a fazer e deixe-se deslumbrar pelas
realizações do seu filho. Mostre claramente o seu orgulho e apreço… e reforce
como ele foi capaz de vencer o nervosismo e divertir-se!
Em casa dedique tempo a brincar
com o seu filho. Para além de ele perceber consigo como é gostável e como é
divertido brincar com ele, as crianças projetam muito do seu dia nas
brincadeiras e transmitem aí muita da sua emoção e modo de ver a realidade.
Entre na brincadeira do seu filho e crie estratégias para resolver as
dificuldades que os “bonecos” apresentam.
Se o seu filho for mais crescido,
o enfoque necessariamente é na linguagem, menos na brincadeira. Mesmo que o vosso
filho não queira falar - ele ouve tudo o que vocês dizem e regista-o. Aborde
sem grande alarido ou crítica as suas dificuldades. O contrário só vai agravar
o seu sentimento de culpa e de incompetência. Procure perceber com ele o que o
está a deixar nervoso e transmita-lhe a sua confiança genuína nas suas
capacidades de dar a volta. Recorde-o que ele está a crescer/amadurecer e que o
nervosismo passa à medida que se vai sentindo mais à-vontade com os colegas e,
sobretudo, mais confiante na sua capacidade de ser interessante para, e com, os
outros. Pode mesmo dar exemplos seus ou relembrá-lo de situações em que ele foi
bem sucedido. Implique-o na reflexão: o que é que ele poderia fazer para se
sentir mais confiante? Tudo depende da
nossa capacidade de nos tornamos agentes de pleno direito da nossa vida.
Por outro lado, rejeite a
tentação de pensar que a ansiedade do seu filho é um problema só dele. Reflita
sobre a sua própria personalidade e estilo relacional. Naturalmente influenciam
o modo como transmite informação sobre como lidar com os desafios. E reflita se
se sente seguro/competente ou inseguro/incapaz para ajudar o seu filho a
ultrapassar tais dificuldades.
Se não
se sente confiante na sua abordagem e sente a sua criatividade bloqueada, não
se culpabilize nem feche os olhos a essa realidade. Estimule o seu filho a
falar com alguém na rede social da família que tenha com ele uma relação de
confiança e que sinta que lhe pode transmitir outras perspetivas (um amigo seu,
um amigo do seu filho ou professor). Noutros casos, falar com o psicólogo pode
ser uma etapa importante, ajudando a criança
a pensar sobre esta questão, no modo como se enquadra no estilo relacional e na dinâmica emocional familiar e,
sobretudo, a integrar outro olhar sobre si mesma e sobre o mundo.