17/02/2014

Autoridade ou Permissividade? Colaboração na descoberta!


Catarina Rodrigues
Psicoterapeuta

(Jornal Público, 8 de Dezembro de 2013)





Muitos serão os pais que se debatem com a questão da permissividade vs autoritarismo, questionando-se da sua influência (e da sociedade em geral) na actuação com os seus filhos e de como isso tem contribuído para a sociedade em que vivemos, em que se fala de uma falta de respeito pelas regras e valores e onde a competição, o lucro e a indiferença face ao outro parecem dominar.

Como veicular o respeito pelo outro e o valor essencial da cooperação, em detrimento de uma competição a todo o custo? O conceito win-win do mundo da gestão (que significa que ambos ganham) é o nosso ponto de partida!

Na minha perspectiva, não se trata de um combate entre a permissividade e a autoridade. Trata-se de ver o bebé e a criança como uma pessoa e tratá-la como tal, isto é, com respeito, carinho, tolerância, e encararmo-nos a nós mesmos como facilitadores da sua aprendizagem do mundo e de si mesma, estimulando com bom-senso as suas explorações, atentos e firmes ao que pode ser perigoso... mas também atentos ao que faz brilhar os seus olhos de entusiasmo face à crescente capacidade de entendimento e de realização (orgulho nas suas competências, dito de outra forma). Dar-lhe alternativas ao que não pode fazer, explicando a nossa atitude de protecção e mostrando outras coisas fascinantes do mundo que a rodeia.

Nesta linha de ideias, não faz sentido encarar o bebé ou a criança como um tirano que desautoriza com os seus comportamentos (o conhecimento obriga à repetição e à “desobediência”, no sentido de tentar perceber e experimentar por si mesmo) e a quem temos de domar, para que cresça obediente (mas sem crítica) face ao adulto; nem se trata de tudo lhe permitir, com medo do seu choro ou da sua zanga (o que gera insegurança em si e nos outros); nem como um ser que não tem intenção e vontade e que não precisa perceber a nossa actuação em relação a ela. Afinal, só respeitamos quem nos respeita e nos explica a sua actuação, para que o possamos entender… e concordar ou discordar. O bebé e a criança devem crescer, sim, com estímulo à sua capacidade de pensar e tomar decisões, explorando a realidade que o rodeia e compreendendo que os adultos são seus parceiros.

Assim sendo, diante do bebé e da criança temos de estar disponíveis para ver o seu lado e tentar perceber as suas reacções de acordo com o olhar da infância. Há certamente uma razão compreensível para a actuação do seu filho. A postura win-win significa que, para sermos respeitados pelo nosso filho, temos de o tratar da mesma forma e estar disponíveis para percebê-lo a luz da sua maturidade e competências. É sabermos agir a autoridade de quem sabe mais sobre o mundo (mas não tudo), mas disponíveis para ouvir a “comunicação relacional” do nosso filho e tentar percebê-lo. É agir de forma em que ele se sinta respeitado; ajudado a experimentar o mundo com segurança e entusiasmo; e contido nas suas zangas e frustrações com amor e paciência.

Ser pai é ser parte integrante, activa e com mais conhecimento no desenvolvimento do bebé. O que tem implicações e exigências, sobretudo em termos da disponibilidade emocional. Ninguém diz que ser pai é fácil. Não o é.

Não é que não existam regras quando brincamos ou vemos brincar o bebé. Mas estas são naturais e assentes nos limites que todos temos à nossa actuação. O que é diferente de coibir, adjectivar negativamente, não estimular ou castigar o comportamento exploratório espontâneo do bebé.

Só experimentando os sucessos, os erros, vivendo as sintonias e as dessintonias na relação é que ganhamos autonomia, independência e capacidade crítica. Só assim aumentamos o sentido de competência própria. E isso é possível numa relação de cooperação, em que a tónica não está no dominar, mas no compreender e explicar. Papel a desempenhar primeiro pelo adulto, que tem mais maturidade, e que progressivamente vai sendo integrado no estilo relacional da criança.

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