Catarina Rodrigues
Psicoterapeuta
(Jornal Público, 8 de Dezembro de 2013)
Muitos serão os pais que se debatem com a questão da
permissividade vs autoritarismo,
questionando-se da sua influência (e da sociedade em geral) na actuação com os
seus filhos e de como isso tem contribuído para a sociedade em que vivemos, em
que se fala de uma falta de respeito pelas regras e valores e onde a competição,
o lucro e a indiferença face ao outro parecem dominar.
Como veicular o respeito pelo outro e o valor essencial da
cooperação, em detrimento de uma competição a todo o custo? O conceito win-win do mundo da gestão (que
significa que ambos ganham) é o nosso ponto de partida!
Na minha perspectiva, não se trata de um combate entre a
permissividade e a autoridade. Trata-se de ver o bebé e a criança como uma
pessoa e tratá-la como tal, isto é, com respeito, carinho, tolerância, e
encararmo-nos a nós mesmos como facilitadores da sua aprendizagem do mundo e de
si mesma, estimulando com bom-senso as suas explorações, atentos e firmes ao que
pode ser perigoso... mas também atentos ao que faz brilhar os seus olhos de
entusiasmo face à crescente capacidade de entendimento e de realização (orgulho
nas suas competências, dito de outra forma). Dar-lhe alternativas ao que não
pode fazer, explicando a nossa atitude de protecção e mostrando outras coisas
fascinantes do mundo que a rodeia.
Nesta linha de ideias, não faz sentido encarar o bebé ou a
criança como um tirano que desautoriza com os seus comportamentos (o
conhecimento obriga à repetição e à “desobediência”, no sentido de tentar
perceber e experimentar por si mesmo) e a quem temos de domar, para que cresça
obediente (mas sem crítica) face ao adulto; nem se trata de tudo lhe permitir, com
medo do seu choro ou da sua zanga (o que gera insegurança em si e nos outros);
nem como um ser que não tem intenção e vontade e que não precisa perceber a
nossa actuação em relação a ela. Afinal, só respeitamos quem nos respeita e nos
explica a sua actuação, para que o possamos entender… e concordar ou discordar.
O bebé e a criança devem crescer, sim, com estímulo à sua capacidade de pensar
e tomar decisões, explorando a realidade que o rodeia e compreendendo que os
adultos são seus parceiros.
Assim sendo, diante do bebé e da criança temos de estar
disponíveis para ver o seu lado e tentar perceber as suas reacções de acordo
com o olhar da infância. Há certamente uma razão compreensível para a actuação
do seu filho. A postura win-win
significa que, para sermos respeitados pelo nosso filho, temos de o tratar da
mesma forma e estar disponíveis para percebê-lo a luz da sua maturidade e
competências. É sabermos agir a autoridade de quem sabe mais sobre o mundo (mas
não tudo), mas disponíveis para ouvir a “comunicação relacional” do nosso filho
e tentar percebê-lo. É agir de forma em que ele se sinta respeitado; ajudado a
experimentar o mundo com segurança e entusiasmo; e contido nas suas zangas e
frustrações com amor e paciência.
Ser pai é ser parte integrante, activa e com mais conhecimento
no desenvolvimento do bebé. O que tem implicações e exigências, sobretudo em
termos da disponibilidade emocional. Ninguém diz que ser pai é fácil. Não o é.
Não é que não existam regras quando brincamos ou vemos
brincar o bebé. Mas estas são naturais e assentes nos limites que todos temos à
nossa actuação. O que é diferente de coibir, adjectivar negativamente, não
estimular ou castigar o comportamento exploratório espontâneo do bebé.
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