por Catarina Nascimento Rodrigues
Para que seja possível uma
Análise bem sucedida não basta apenas a técnica psicanalítica. A meu ver, a
retoma do desenvolvimento só é possível porque, na relação com o terapeuta, se
sente, de forma inequívoca, como só o inconsciente pode saber, o entusiasmo e o
afecto deste, que, na escuta atenta e interessada, sente esperança e prazer em
estar/conhecer/acompanhar as mudanças/dores/conquistas/decepções do seu
paciente. Sem julgamento e sem expectativa. Mas com aposta. Com criatividade e
persistência no alimento do laço afectivo criado face às desesperanças e
descrenças do paciente. Com esperança no futuro e na realização pessoal deste.
Tudo características do que designo por amor do terapeuta.
É a arte da nova relação que se
instala entre aquele paciente e aquele terapeuta naquele momento das suas
vidas, permitindo ao paciente uma experiência bem sucedida de ser ouvido,
compreendido e estimulado. Em minha opinião, o entusiasmo e o estímulo que o
terapeuta demonstra, consciente e inconscientemente, pelo seu paciente - e que
nada mais é do que a resposta complementar face ao que falhou -, incentiva este
último a assumir a sua agencialidade e conquistar o prazer e a realização
pessoal na sua vida.
Sozinhos sobrevivemos. Com o
outro, conquistamos o prazer e o sentido de viver. Vivemos com o outro. Crescemos e expandimo-nos em sociedade. Porque o
reconhecimento e o orgulho do outro são “alimentos” essenciais. É a certeza da
partilha e do olhar deslumbrado do outro que estimula a criatividade, a beleza
e a inovação das nossas criações.
Mas, entenda-se, esse estímulo,
esse incentivo por parte do terapeuta não é o mesmo que delinear um caminho
para o seu paciente. É um incentivo que nasce do profundo conhecimento e da
sintonia sentida com o seu paciente. Trata-se de dar voz ao paciente, numa
escuta atenta e interessada daquilo que é dito de forma consciente e daquilo
que se sente do que é dito de forma inconsciente – o self autêntico do
paciente.
Para mim, a atenção, o
interesse, o afecto real do terapeuta pelo seu paciente são o núcleo de uma
relação terapêutica bem sucedida. O interesse genuíno demonstrado vem colmatar
a falha primária e devolver o sentido de valor e de importância ao sujeito e,
assim, permitir-lhe reconhecer-se como pessoa com valor e passível de ser
gostada e admirada. Não existimos como pessoas sem essa postura interessada e
amante do outro significativo. Ela é a base da vida mental e emocional. Coimbra
de Matos realça neste sentido o facto de a espécie humana ser a única onde se
amamenta e se ama olhos nos olhos/face a face.
Neste sentido, o terapeuta que
acompanha o paciente pelo inferno emocional da sua depressão não pode ser
neutro, distante, enfim, um técnico. À semelhança da relação primária, a
possibilidade de olhar o terapeuta/a mãe, perscrutá-lo/a, senti-lo/a é
importante para conseguir encontrar amor por si mesmo no olhar e nos gestos do seu
terapeuta. Precisa ver para crer. Precisa utilizar os vários sentidos
para aferir da veracidade do afecto do terapeuta. Precisa sentir o calor do seu
afecto na comunicação intersubjectiva que vai acontecendo ao longo das sessões.
Para
tal, o terapeuta precisa sentir-se livre para se poder implicar com
autenticidade naquela relação. Precisa confiar em si mesmo e na sua intuição,
assente na boa sintonia construída com o seu paciente, para encontrar a
resposta única e criativa em relação àquele paciente. Não pode fechar-se na
neutralidade da técnica. Precisa sentir-se livre na nova relação construída,
dando-se também de forma inteira, persistente e criativa.
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