26/01/2016

Lidar com a agressividade e a frustração do seu filho - II

Lidar com a agressividade e a frustração do seu filho - II


Publicado originalmente no Jornal Público, em Fevereiro de 2014

Catarina Rodrigues
Psicoterapeuta


Na aprendizagem da gestão da zanga e da frustração, o principal papel dos pais é: por um lado, dar significado ao comportamento da criança: “Eu percebo que estejas chateado e zangado. Eu percebi que estavas a fazer uma coisa gira, mas agora temos de ir mesmo tomar banho, porque temos de ir jantar. Além disso, podemos ir brincar logo a seguir”; e, por outro, ajudá-la a contê-lo e a dirigi-lo de forma mais correcta: “Não podes bater nos pais, porque os pais também não te batem. Nem deves bater em ti mesmo. Eu não quero que o faças. Estás zangado, eu já percebi. Todos nós nos zangamos. Mas tens de te acalmar e explicar o que se passa. Se continuas assim, eu não consigo perceber e não te consigo ajudar melhor. Calma”.
A contenção física com amor nestas situações é importante: faz com que a criança se sinta segura e amada. O toque tem o poder de acalmar e esse é o primeiro passo a fazer com a criança. Não o deixe sozinho com a sua fúria. Aliás, se o coloca no chão ou na cama (mesmo que seja porque ele estava a contorcer-se para ir para aí) ou o entrega ao outro pai e vai-se embora, o choro e a zanga aumentam. Ele sente-se descontrolado e não sabe o que fazer. Precisa de si, de sentir que não o abandonou, que o está a tentar acalmar e que lhe permite viver a zanga na segurança do seu colo.
Para isso, tem de estar calmo e gerir dentro de si as emoções fortes que tal situação provoca. Efectivamente, a zanga da criança provoca em nós mesmos zanga e fúria. Espelha o que ela projecta em nós. Sentir raiva, desespero, fúria é natural nesses momentos. Somos humanos e sentimos a agressividade que nos está a ser dirigida naquele momento… mesmo que seja do nosso filho. Contudo, cabe-nos a nós gerir essa agressividade e frustração. Não é fácil, mas é possível.
Em primeiro lugar, é importante perceber que a fúria que sentimos não é nossa. Traduz o estado de alma do nosso filho. É ele que está descontrolado, furioso e frustrado. Nós estamos ao seu lado para o ajudar a lidar com tais emoções. Para isso, temos de perceber que este estado passa, mas que demora algum tempo. É como um carro que acelerou ao máximo. Não desacelera num segundo. Temos de lhe dar tempo e ir desacelerando aos poucos. Também não vale a pena descontrolarmo-nos e batermos no carro ou gritarmos com ele. Não adianta de nada e só faz com que nos sintamos ainda mais irritados e impotentes… e o carro continue descontrolado.
Em segundo lugar, evite a auto-centração: o seu filho não está contra si, nem a desobedecer-lhe; está descontrolado e a aprender a gerir as suas emoções… consigo.
Por isso, acalme-se. Respire fundo e reconheça que este momento vai passar e que você vai ajudar, mas primeiro é preciso que haja uma alteração do estado de espírito de ambos. Faça algo que diminua a tensão. Ande com o seu filho para outra divisão da casa. Fale baixinho, explicando que ele está zangado, mas que se vai acalmar. Ou fale de algo que ele goste. Ou não diga nada e abrace-o. À medida que você mesmo se acalma, o seu tónus muscular também relaxa e você volta a sentir ternura pelo seu filho e a conseguir perspectivar a situação do ponto de vista dele: é ele que está zangado, não é você. E tudo isso contribui para tranquilizar o seu filho.
Quando ele voltar a estar calmo e alegre, você que pode retomar a conversa em suspenso: a ida para o banho. E faça-o de forma tranquila. Não receie nova fúria. Normalmente, o seu filho gosta. Só que às vezes, enerva-se, porque fica frustrado. Está a aprender consigo que a frustração pode ser transformada e que nos podemos voltar a sentir bem… e que não perdemos o amor do outro nessas situações.
Finda a situação, e o banho tomado, é o momento da aprendizagem. Fale da situação com tranquilidade: percebeu que ele estava mesmo zangado, mas que ele já sabe que àquela hora tem de tomar banho. E que, como os crescidos, não deve bater, pode explicar.

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