Lidar com a agressividade e a
frustração do seu filho - II
Publicado originalmente no Jornal Público, em Fevereiro de 2014
Catarina Rodrigues
Psicoterapeuta
Na aprendizagem da gestão da zanga e da frustração, o
principal papel dos pais é: por um lado, dar significado ao comportamento da
criança: “Eu percebo que estejas chateado e zangado. Eu percebi que estavas a
fazer uma coisa gira, mas agora temos de ir mesmo tomar banho, porque temos de
ir jantar. Além disso, podemos ir brincar logo a seguir”; e, por outro,
ajudá-la a contê-lo e a dirigi-lo de forma mais correcta: “Não podes bater nos
pais, porque os pais também não te batem. Nem deves bater em ti mesmo. Eu não
quero que o faças. Estás zangado, eu já percebi. Todos nós nos zangamos. Mas
tens de te acalmar e explicar o que se passa. Se continuas assim, eu não
consigo perceber e não te consigo ajudar melhor. Calma”.
A contenção física com amor nestas situações é importante:
faz com que a criança se sinta segura e amada. O toque tem o poder de acalmar e
esse é o primeiro passo a fazer com a criança. Não o deixe sozinho com a sua
fúria. Aliás, se o coloca no chão ou na cama (mesmo que seja porque ele estava
a contorcer-se para ir para aí) ou o entrega ao outro pai e vai-se embora, o
choro e a zanga aumentam. Ele sente-se descontrolado e não sabe o que fazer.
Precisa de si, de sentir que não o abandonou, que o está a tentar acalmar e que
lhe permite viver a zanga na segurança do seu colo.
Para isso, tem de estar calmo e gerir dentro de si as emoções
fortes que tal situação provoca. Efectivamente, a zanga da criança provoca em
nós mesmos zanga e fúria. Espelha o que ela projecta em nós. Sentir raiva,
desespero, fúria é natural nesses momentos. Somos humanos e sentimos a agressividade
que nos está a ser dirigida naquele momento… mesmo que seja do nosso filho. Contudo,
cabe-nos a nós gerir essa agressividade e frustração. Não é fácil, mas é
possível.
Em primeiro lugar, é importante perceber que a fúria que
sentimos não é nossa. Traduz o estado de alma do nosso filho. É ele que está
descontrolado, furioso e frustrado. Nós estamos ao seu lado para o ajudar a
lidar com tais emoções. Para isso, temos de perceber que este estado passa, mas
que demora algum tempo. É como um carro que acelerou ao máximo. Não desacelera
num segundo. Temos de lhe dar tempo e ir desacelerando aos poucos. Também não
vale a pena descontrolarmo-nos e batermos no carro ou gritarmos com ele. Não
adianta de nada e só faz com que nos sintamos ainda mais irritados e impotentes…
e o carro continue descontrolado.
Em segundo lugar, evite a auto-centração: o seu filho não
está contra si, nem a desobedecer-lhe; está descontrolado e a aprender a gerir
as suas emoções… consigo.
Por isso, acalme-se. Respire fundo e reconheça que este
momento vai passar e que você vai ajudar, mas primeiro é preciso que haja uma
alteração do estado de espírito de ambos. Faça algo que diminua a tensão. Ande
com o seu filho para outra divisão da casa. Fale baixinho, explicando que ele está
zangado, mas que se vai acalmar. Ou fale de algo que ele goste. Ou não diga
nada e abrace-o. À medida que você mesmo se acalma, o seu tónus muscular também
relaxa e você volta a sentir ternura pelo seu filho e a conseguir perspectivar
a situação do ponto de vista dele: é ele que está zangado, não é você. E tudo
isso contribui para tranquilizar o seu filho.
Quando ele voltar a estar calmo e alegre, você que pode
retomar a conversa em suspenso: a ida para o banho. E faça-o de forma tranquila.
Não receie nova fúria. Normalmente, o seu filho gosta. Só que às vezes,
enerva-se, porque fica frustrado. Está a aprender consigo que a frustração pode
ser transformada e que nos podemos voltar a sentir bem… e que não perdemos o
amor do outro nessas situações.
Finda a situação, e o banho tomado, é o momento da
aprendizagem. Fale da situação com tranquilidade: percebeu que ele estava mesmo
zangado, mas que ele já sabe que àquela hora tem de tomar banho. E que, como os
crescidos, não deve bater, pode explicar.
0 comentários:
Enviar um comentário