Retomar o desenvolvimento. O pensamento de Donald Winnicott em Congresso
Retomar o Desenvolvimento – a
propósito do II Congresso Luso-Brasileiro sobre o Pensamento de Donald W. Winnicott
Catarina Rodrigues, Cláudia Fonseca, Felisberto
Cardoso, Irene
Borges Duarte, João Boavida, Maria do Rosário Belo e Tiago Sequeira
Quem procura uma consulta de psicoterapia e tem a coragem
interna e a esperança relacional de iniciar este caminho vai, de forma
consciente ou inconsciente, à procura de “retomar o seu desenvolvimento”. Dito
de outra forma, é alguém que sente, de forma intuitiva, que se lhe for
possibilitado um estilo relacional voltado para a reflexão sobre si mesmo, onde
possa pensar tudo sem tabus nem medos, com respeito e tolerância, e com o olhar
na expansão das competências que ficaram inibidas ou sub-desenvolvidas ao longo
do seu desenvolvimento, conseguirá desvelar um estilo relacional mais fluido,
feliz, criativo, menos crítico consigo mesmo e com os outros, mais resiliente e
expansivo.
Sente-o de forma intuitiva porque na matriz original do sujeito
existem forças psíquicas que, como diria Winnicott, tendem para a saúde mental,
se assim agir como facilitador o meio humano e relacional sentido como “suficientemente
bom” no acolhimento, compreensão e atendimento das necessidades e
características do bebé, as quais o autor designou por “gesto espontâneo” do
bebé.
A pessoa que procura a psicoterapia sente, ainda que às
vezes não o consiga explicar verbalmente (saturada que está de estilos
relacionais e comunicacionais frustrantes e/ou agressivos), que se encetarem
consigo uma relação centrada em si própria e com o olhar entusiasmado nas suas
competências e qualidades, então poderá amadurecer e sentir-se mais livre,
cooperativa, tolerante e confiante com o seu modo de se relacionar com o seu
mundo interno e externo. A balança relacional passa a pesar mais do lado das
competências. Competências todos temos, mas a verdade é que não são todas as
relações que as sabem estimular em nós. E o ser humano desenvolve-se na relação
e através da relação.
Esta será mesmo a essência do trabalho psicoterapêutico: oferecer-se
como uma relação centrada na pessoa do paciente, voltada para as competências,
para a responsabilização do próprio pela sua vida, para a construção de uma
vida que o próprio sinta que é digna de ser por si vivida… e que vai sendo
descoberta ao ritmo único do par terapeuta-paciente.
Neste sentido, o interesse
genuíno pelo paciente é um ingrediente distintivo e deve servir de fator de
diagnóstico para o bom crescimento e desenvolvimento da relação terapêutica.
Quando gostamos de alguém, sentimos interesse e prazer em estar com ela, mas
sobretudo apostamos nessa pessoa.
Apostamos/cremos no seu desenvolvimento/crescimento, e é esse entusiasmo e
crença que são sentidos, na comunicação intersubjetiva, pelo paciente e
potenciam neste um olhar sobre si mesmo noutra perspetiva: como alguém
gostável, mas sobretudo como alguém com potencial e valor. Um olhar fundamental
para dar sentido e projecto de vida ao sujeito. Um olhar que faz nascer
psicologicamente o sujeito – como ser humano com futuro na sua sociedade.
Pensando na influência do
pensamento de Winnicott (psicanalista e pediatra inglês) na psicanálise actual,
a Associação Portuguesa de Psicanálise e Psicoterapia Psicanalítica (AP), presidida
pelo Prof. Dr. António Coimbra de Matos e cuja comissão de ensino é presidida
pelo Prof. Dr. Carlos Amaral Dias, vai realizar nos próximos dias 20 e 21 de
Junho, no ISPA, um congresso dedicado a este que é um dos psicanalistas com
mais importância para o desenvolvimento das descobertas de Freud, nomeadamente
no que diz respeito ao tratamento e prevenção de doenças de foro psico-emocional
graves.
O congresso vai ter por
título "A retomada do amadurecimento". Um conceito winnicottiano que tem
por base o princípio de que a doença psíquica ocorre no ser humano sempre que
este se vê impedido de amadurecer (evoluir). Isto é, o ser humano teria como
tarefa conduzir e levar a bom porto a sua própria vida, adoecendo sempre que
tal não acontece. As formas de adoecer são variadas, mas o sofrimento humano
gira sempre em torno de questões básicas, como: sentir-se real e sentir que a
vida vale a pena, sentir-se útil e capaz de conciliar sentimentos de ódio e
frustração com sentimentos de amor e realização (sendo que na saúde imperam os
segundos) e ter capacidade para gerir os afectos nas relações
interpessoais.
O interesse do estudo das ideias veiculadas por Winnicott está não só na optimização dos processos de cura (dentro dos consultórios dos psicanalistas), como também na aplicação prática e preventiva destes conceitos no plano social mais alargado como, por exemplo, em contextos escolares, hospitalares e instituições de trabalho com pessoas de todas as idades. Por isso, pensamos que o II Congresso sobre o Pensamento de Donald Winnicott é útil para vários públicos: psicólogos, médicos, assistentes sociais, enfermeiros, fisioterapeutas, animadores sociais, professores; pais ou educadores que tenham a cargo crianças ou adolescentes; profissionais que trabalhem com idosos; ou simplesmente pessoas interessadas na compreensão da natureza humana e no auto-conhecimento.
O interesse do estudo das ideias veiculadas por Winnicott está não só na optimização dos processos de cura (dentro dos consultórios dos psicanalistas), como também na aplicação prática e preventiva destes conceitos no plano social mais alargado como, por exemplo, em contextos escolares, hospitalares e instituições de trabalho com pessoas de todas as idades. Por isso, pensamos que o II Congresso sobre o Pensamento de Donald Winnicott é útil para vários públicos: psicólogos, médicos, assistentes sociais, enfermeiros, fisioterapeutas, animadores sociais, professores; pais ou educadores que tenham a cargo crianças ou adolescentes; profissionais que trabalhem com idosos; ou simplesmente pessoas interessadas na compreensão da natureza humana e no auto-conhecimento.
Realizado em colaboração
com a Sociedade Brasileira de Psicanálise Winnicottiana, e com o apoio da
International Winnicott Association, este Congresso
vai ser um momento único de possibilidade de aprendizagem e enriquecimento
pessoal e profissional, contando com a presença de ilustres psicanalistas
nacionais e internacionais, como António Coimbra de Matos, Carlos Amaral Dias,
Cláudia Dias Rosa, Elsa Oliveira Dias, Laura Dethiville, Roseana Garcia, Zeljko
Loparic. Porque acreditamos que o diálogo multidisciplinar é enriquecedor,
contamos ainda com a presença do Prof. Dr. João Maria André, da área da
Filosofia, e do Prof. Dr. João Gomes Pedro, da área de pediatria.
Estamos confiantes que
este será um Congresso com grande adesão e rico debate de ideias dentro da área
da saúde e de grande utilidade para todos os profissionais que se interessam
pela saúde e bem-estar social.